Por que 661 contêineres que caíram no mar no ano passado é uma boa notícia.

Recentemente, o Conselho Mundial de Navegação (World Shipping Council), principal entidade do transporte marítimo internacional, divulgou que 661 contêineres (aquelas enormes caixas de aço que os navios transportam, com mercadorias diversas) caíram e se perderam nos mares do mundo, no ano passado. E o dado foi saudado como sendo positivo pela entidade.
A razão da comemoração, no entanto, foi um tanto patética: a simples diminuição na quantidade de incidentes desse tipo, em relação aos anos anteriores.
Embora chocante, a quantidade de contêineres que foram parar no mar em 2022 foi cerca de 65 % menor do que no ano anterior, quando mais de 2 000 objetos do gênero desabaram nos oceanos, e bem abaixo da média anual, de 1 566 contêineres perdidos por ano, nos últimos 15 anos. E o menor índice desde 2008.
“Se considerarmos que cerca de 250 milhões de contêineres são transportados em navios a cada ano, os 661 que caíram no mar no ano passado representam apenas 0,00048% do total, o que é uma gota d´água no oceano”, interpretou, à sua maneira, o presidente da entidade, John Butler.
No entanto, ele mesmo completou que, “embora a redução desse tipo de acidente seja uma notícia positiva, não há lugar para complacência, é que preciso se empenhar ainda mais para reduzir este número” — este, sim, um comentário sensato.
Quando um contêiner cai no mar, não há como ele ser resgatado pelo próprio navio que o derrubou, e o seu destino passa a ser, inexoravelmente, o fundo do mar, contaminando o ambiente marinho em maior ou menor intensidade, dependendo do tipo de mercadoria que ele continha, mas sempre de maneira daninha — sem falar no risco que uma caixa de aço do tamanho de um vagão de trem, boiando na superfície até que afunde por completo, representa para as demais embarcações.
Portanto, comemorar a queda no mar de mais de seis centenas de contêineres em apenas um ano – apenas entre os incidentes desse tipo que foram notificados, porque nem todos o são – é algo, no mínimo, questionável. Bem melhor seria que nenhum contêiner tivesse sido perdido por navio algum.
Nenhum grande naufrágio
O próprio Conselho Mundial de Navegação admite que a diminuição no número de acidentes desse tipo no ano passado não foi apenas consequência de melhoramentos na área da segurança do transporte marítimo, mas sim fruto de uma mera eventualidade: não houve nenhum naufrágio envolvendo grandes navios porta-contêineres em 2022, como ocorreu em anos anteriores – o que, obviamente, não deixa de ser uma boa notícia.
Isso, aliado ao aumento brutal no transporte de contêineres com mercadorias oriundas do comércio eletrônico, setor que explodiu em todo o mundo durante a pandemia (só em 2020, mais de 3 000 contêineres se perderam no mar, carregados de compras feitas pela internet, já que ninguém podia sair de casa), fez com que o número apresentado pela entidade tenha conseguido a mágica de ser saudado com entusiasmo.
Não há como negar que 661 contêineres perdidos no mar no ano passado são bem menos comprometedores à segurança da navegação e ao meio ambiente marinho do que os 3 113 que desabaram dos navios três anos atrás.