Mural de Kobra é apagado em São Paulo e artista diz que arte não é descartável
KARINA MATIAS E PEDRO MARTINS
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O artista Kobra teve mais um mural apagado em São Paulo. A obra estava localizada na altura do número 3.300 da avenida Morumbi, na zona oeste de São Paulo, e fazia parte da série “Muro das Memórias”, grupo de trabalhos em que o grafiteiro retrata cenas da capital paulista na primeira metade do século 20.
O mural tinha quase 15 anos e representava o movimento da rua Direita, no centro da cidade, em 1905. Kobra disse que, no ano passado, a obra foi restaurada. Ele ficou sabendo que o painel não existe mais nesta semana, por meio das redes sociais.
Foram os proprietários do terreno que decidiram apagar o mural há cerca de um mês. À reportagem, os donos do imóvel -que não querem ser identificados– disseram que nunca deram autorização para que o grafite fosse feito no espaço e que pretendem derrubar o muro para construir um estabelecimento comercial no lugar.
Uma placa no local sinaliza que o terreno de 2.000 metros quadrados está à venda.
Segundo Kobra, o assunto merece reflexão. Ele diz que a ideia da série “Memórias” é recuperar e ressignificar imagens históricas. “As pessoas descobriam, a cada dia, um detalhe diferente nesta obra. As próximas gerações têm o direito de ver estes trabalhos”, defende.
Segundo ele, existe um mito de que a arte de rua é algo descartável, que pode ser removida a qualquer hora. “Mas não é assim”, diz. “É um muro particular, o dono tem o direito de fazer o que quiser, mas é questionável o motivo. Tenho um filho de sete anos e gostaria que ele tivesse visto este trabalho”, argumenta.
Funcionários de um posto de combustíveis e de lojas situadas à frente de onde ficava a obra lamentaram que o mural tenha sido apagado. Uma tinta branca hoje cobre todo o muro. “Era bonito. Uma pena terem removido”, diz Gabriel Alves, de 21 anos, vendedor de uma cafeteria.
Kobra tem obras em mais de 40 países. Ele se tornou conhecido, em 2007, justamente pelo projeto “Muro das Memórias”.
O artista já teve outras obras removidas. Há cinco, uma loja da rua Oscar Freire, conhecida pelo comércio de luxo na capital paulista, decidiu apagar uma das criações mais famosas do muralista, a pintura do cientista Albert Einsten andando de bicicleta. O trabalho foi substituído pela palavra “love”, amor, em inglês, o que gerou polêmica na época.
Em 2017, um grafite de Kobra na avenida 23 de Maio foi apagado pelo então prefeito de São Paulo, João Doria. A obra tinha sido anteriormente pichada com uma imagem que remetia ao prefeito em protesto contra a decisão da prefeitura de remover alguns murais da via e pintar por cima de cinza.
Antes de a obra ser vandalizada, a administração municipal havia dito que não tinha a intenção de apagar o painel de Kobra, porque ele estava bem conservado.
Fonte: NotíciasAoMinuto