Após 3 anos sem novos trainees, Magalu voltará a ter programa exclusivo para negros
(FOLHAPRESS) – Depois de passar três anos sem abrir novos processos seletivos para programas de trainee, o Magalu planeja retomar as contratações de jovens profissionais. Assim como a empresa fez em 2020 e em 2021, serão selecionados apenas candidatos negros.
A retomada pode reaquecer um debate que ganhou força em setembro de 2020, quando o Magalu abriu as inscrições da seleção de trainees exclusiva para negros. Na época, as redes sociais levantaram uma enxurrada de ataques racistas.
A repercussão evidenciou as estatísticas da baixa participação de pessoas negras em cargos de comando de grandes empresas no Brasil e estimulou outras companhias a lançarem recrutamentos com o mesmo formato.
O freio na abertura de novas seleções de trainees aconteceu no cenário pós-pandemia, segundo Frederico Trajano, presidente do Magalu. Os dois programas da varejista exclusivos para negros foram lançados no auge do ciclo econômico positivo que beneficiou o setor, mas depois foi interrompido por retração da economia, dos resultados e alta de juros.
“A ciclicalidade econômica negativa dificulta promoções. Nós reduzimos quadro em 2022 e 2023. Então, é mais complexo promover ao mesmo tempo em que se faz baixa de quadro. Tanto é que fizemos mais um programa de trainee em 2021 e depois tivemos um hiato. Não fazia sentido ter mais programa se a gente estava fazendo reduções de quadro. Agora, devemos retomar entre o fim deste ano e o próximo”, afirma o empresário.
Dos 19 jovens que entraram no primeiro programa de trainees exclusivo para profissionais negros em 2020, 14 permaneceram na companhia, com promoções de salário e cargo, segundo Trajano.
Como acontece em todos os programas historicamente, uma parte dos trainees deixa a empresa porque recebe propostas no mercado ou por outro motivo. Trajano afirma que, neste caso, a saída de trainees foi mais baixa do que a média histórica de programas anteriores.
Passados quatro anos, a experiência comprovou que a atração de talentos negros não estava atingindo o seu objetivo antes do programa de 2020, avalia o empresário.
“Era mais uma questão de dar chance e dar oportunidade para pessoas que, às vezes, não se achavam pertencentes a um programa de trainee, que não achavam que tinham condição de fazer”, afirma.
“Tem muita gente excepcional, de muito talento, de muita qualidade, mas simplesmente, nós não estávamos conseguindo atrair essas pessoas ou elas mesmas não estavam sentindo que o programa de trainee era para elas. Eu sabia que, uma vez que essa engrenagem funcionasse, as coisas iriam andar mais naturalmente. A gente sempre quis os talentos negros”, diz Trajano.
Além de acelerar a carreira dentro da empresa, os ex-trainees investiram em outras atividades de capacitação neste período. Alguns permaneceram em suas áreas e outros mudaram. Eles avaliam que a rotatividade por diferentes setores da companhia e o trânsito nos ambientes da diretoria ajudaram a esclarecer as possibilidades de carreira e a abrir escolhas.
Cleison Xavier, um dos candidatos que ingressou na seleção de 2020, lidera hoje uma equipe de nove pessoas no Magalu na área de tecnologia. Ele concluiu o mestrado iniciado antes do programa de trainee e afirma que está na fase de redação de seu novo trabalho de conclusão de um MBA em engenharia de software na USP. Mas a partir do ano que vem,já tem programado um período de estudos em Portugal e outro nos Estados Unidos.
“Me inscrevi para participar de uma bolsa para um programa executivo no Instituto Universitário de Lisboa e acabei ganhando uma bolsa de 100%. E me inscrevi para uma outra vaga também do Laiob (Latin América Institute of Business), dessa vez em Ohio, sobre gestão de projetos, com bolsa de 50%”, diz Xavier.
Kizzy Lima, que já trabalhava no Magalu em um posto de analista pleno, foi promovida a gerente de tesouraria.
“Antes do processo seletivo de 2020, eu não me via como uma profissional que teria a possibilidade de ser trainee. Eu sempre vi o trainee como alguém que precisava ser formado em universidades públicas, ter intercâmbio e várias experiências. Quando abriu o processo, eu tive muitos incentivadores dentro da empresa, pessoas que enxergavam em mim algo que eu ainda não conseguia ver. Então, agarrei com muita intensidade e foi transformador”, diz.
Lima se prepara para, nas férias, embarcar para um intercâmbio de inglês em Toronto.
Para Allana Cordeiro, que galgou as posições de analista sênior, especialista e agora atua como coordenadora de modelo de gestão, um dos pontos altos do programa foi o contato mais próximo com a direção da empresa.
“Essa proximidade nos traz o desafio de ir atrás para aprender cada vez mais. E também traz uma segurança de que eu estou aqui porque tenho capacidade de acompanhar assuntos estratégicos e porque tenho capacidade e potencial de oferecer meus serviços, dar algum tipo de sugestão, crítica ou influenciar de alguma forma”, diz Cordeiro.
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Fonte: noticiasaominuto.com.br