Mato Grosso lidera aumento de mortes violentas na Amazônia Legal entre 2021 e 2023, aponta estudo

Mato Grosso foi o estado da Amazônia Legal que registrou o maior crescimento no número de mortes violentas intencionais entre 2021 e 2023, de acordo com a 3ª edição do estudo “Cartografias da Violência na Amazônia”, divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública nesta quarta-feira, 11 de dezembro. O aumento nos homicídios dolosos (quando há intenção de matar) foi de 28,5%, totalizando 3.090 vítimas ao longo dos três anos analisados.
Os números demonstram um agravamento da violência no estado, que passou de 879 vítimas de homicídios em 2021, para 1.062 em 2022, e 1.159 em 2023. Esse crescimento alarmante coloca Mato Grosso como o estado com o maior aumento proporcional de mortes violentas na região, superando outras unidades da Federação com maior número absoluto de homicídios.
Fatores que contribuem para o aumento da violência.
O coordenador de projetos do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, David Marques, destacou que a violência em Mato Grosso está fortemente associada à guerra entre facções criminosas, disputa pelo controle do tráfico de drogas, e a atuação de milícias ligadas ao agronegócio e ao garimpo ilegal. Segundo Marques, embora haja outros estados com números maiores de homicídios, o crescimento da violência em Mato Grosso se deve a uma combinação de fatores, sendo o conflito entre organizações criminosas um dos principais impulsionadores.
As 10 cidades mais violentas do estado.
O estudo também revelou as cidades mais afetadas pela violência, com Nova Santa Helena destacando-se como a mais violenta, com uma taxa de 102,3 vítimas a cada 100 mil habitantes. Seguem-se outras cidades como São José do Rio Claro (100,1 vítimas por 100 mil habitantes), Nova Maringá (96,5 vítimas por 100 mil habitantes), Aripuanã (91,4 vítimas por 100 mil habitantes) e Alto Paraguai (91,0 vítimas por 100 mil habitantes). O levantamento aponta que, entre os 141 municípios de Mato Grosso, 63 apresentaram uma taxa de mortes violentas superior à média da região Amazônica.
A presença de facções criminosas e a disputa pelo tráfico.
O estudo revela que Mato Grosso é território de pelo menos quatro grandes facções criminosas: Comando Vermelho, Primeiro Comando da Capital (PCC), Tropa Castelar e Bonde dos 40. O estado, estratégico como rota do tráfico de drogas, especialmente vindo da Bolívia e do Peru, tem sido alvo de disputas intensas entre essas organizações, que dominam 42 municípios do estado. Desses, 27 têm presença de um único grupo, enquanto em 15 há pelo menos dois.
As cidades do norte do estado têm sido os principais focos de conflito, com destaque para o Comando Vermelho, que domina 23 municípios. O PCC tem presença apenas em Pedra Preta, mas sua influência se estende por outras regiões.
Casos de violência relacionados às facções.
O estudo também trouxe à tona casos de homicídios motivados por simbolismos de facções, como o caso de Ellen Nascimento da Silva, em Brasnorte, em 2022, que foi morta após fazer um gesto com as mãos relacionado a uma facção rival. Outro caso citado foi o de Pablo Ronaldo dos Santos, em 2023, que foi sequestrado e morto por uma facção criminosa em Nova Ubiratã, após realizar um gesto semelhante durante uma festa.
Programa ‘Tolerância Zero’ e ações do governo estadual.
Diante do aumento da violência, o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes, anunciou, em novembro deste ano, uma série de medidas para intensificar o combate às facções criminosas. O programa “Tolerância Zero ao Crime Organizado” inclui a criação da Secretaria de Justiça (Sejus-MT), a instalação de quatro delegacias especializadas e a convocação de mais de 300 servidores para reforçar a segurança pública no estado. As novas delegacias serão instaladas em Cuiabá, Lucas do Rio Verde, Cáceres e Sinop, visando descentralizar o combate ao crime organizado.
O aumento da violência em Mato Grosso exige uma resposta contundente das autoridades, e as medidas adotadas pelo governo estadual buscam frear o crescimento do crime e devolver a sensação de segurança à população. As investigações e a repressão ao tráfico de drogas, além do enfrentamento das facções, permanecem como prioridades nas ações de segurança pública.
Fonte: Por g1 MT.