Nova variante de coronavírus é encontrada em morcegos do Pantanal, mas sem risco de transmissão para humanos

Uma nova variante do coronavírus, chamada Alphacoronavirus, foi identificada pela primeira vez no Pantanal, em morcegos que habitam regiões florestais e prédios abandonados de Mato Grosso. A descoberta foi divulgada em um estudo publicado neste mês pelo Instituto Multidisciplinar de Publicação Digital (MDPI).
De acordo com a pesquisa, o Alphacoronavirus pertence à família Coronaviridae, a mesma do SARS-CoV-2, causador da Covid-19, e é conhecido por causar infecções respiratórias em diversos mamíferos. Embora seja da mesma família, o estudo aponta que não há evidências de que essa variante possa ser transmitida para os seres humanos.
O coordenador da pesquisa, o médico veterinário Daniel Moura de Aguiar, explicou que os humanos são mais suscetíveis a infecções por Betacoronavírus, como o que causou a pandemia de Covid-19. “Falar de risco para transmissão de Alphacoronavirus de morcegos para humanos é muito difícil”, destacou Moura, ressaltando que os morcegos podem carregar diferentes tipos de coronavírus, mas as mutações e a transmissão entre espécies ainda precisam ser mais estudadas.
O estudo também aponta que mudanças nos habitats naturais dos animais, como desmatamentos e queimadas, aumentam o contato entre humanos e animais selvagens, o que pode elevar o risco de novas infecções. Moura alertou para o impacto que essas mudanças podem ter nos morcegos, fazendo com que busquem abrigo em locais próximos a seres humanos, como os prédios abandonados no Pantanal. O especialista defende que a conservação e a manutenção de ambientes limpos e protegidos no Pantanal são essenciais para evitar o contato entre humanos e morcegos.
A pesquisa foi conduzida em áreas florestais, zonas urbanas e periurbanas, e incluiu locais próximos a residências. Durante o levantamento, 419 morcegos de diversas espécies foram capturados e a presença de coronavírus foi detectada. A pesquisa foi realizada por uma equipe de cientistas da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Universidade de São Paulo (USP), Universidade do Porto, Universidade Estadual de Campinas, Instituto Butantan e Hospital Israelita Albert Einstein.
Embora o estudo tenha sido pioneiro no Pantanal, o médico veterinário ressaltou que é cedo para afirmar padrões ecológicos, já que a pesquisa seguiu observações similares feitas em outros biomas, como a Mata Atlântica, o Cerrado e a Amazônia. Mesmo assim, a continuidade do monitoramento da evolução das mutações do Alphacoronavirus em morcegos é essencial para acompanhar qualquer possível alteração no comportamento do vírus.
O avanço no entendimento das zoonoses, especialmente em áreas de grande biodiversidade como o Pantanal, destaca a necessidade de políticas públicas de preservação ambiental e o acompanhamento rigoroso de possíveis transmissões de doenças entre animais e seres humanos.
Fonte: Por Amábile Monteiro, g1 MT.