Suspeitos de assalto em Brasnorte denunciam tortura e ameaças por parte do GCCO durante abordagem policial

Dois empresários presos sob suspeita de participação no assalto à agência bancária do Sicredi, ocorrido em Brasnorte-MT, na última quinta-feira (31), denunciaram agentes do Grupo de Combate ao Crime Organizado (GCCO) por suposta prática de tortura e ameaças durante a abordagem. A denúncia foi feita por Fabrício da Silva Lima e Valdemar do Nascimento Alves durante audiência de custódia, realizada no domingo (3).
Segundo os relatos, os policiais civis armados com fuzis teriam desviado do trajeto para a delegacia e levado os suspeitos até uma residência, onde teriam sido agredidos por horas. Fabrício afirmou que teve o celular da esposa tomado pelos agentes e foi impedido de contatar seu advogado. “Falaram que ia para a delegacia, mas passaram direto, levaram a gente para a casa do Valdemar, entraram, trancaram a casa e, desse momento em diante, só foi tortura”, declarou o empresário.
Durante a audiência, Fabrício exibiu hematomas no corpo e relatou que a sessão de violência durou aproximadamente três horas. Segundo ele, os agentes teriam simulado afogamento em uma piscina e o agredido com chutes no estômago, além de cobrir seu rosto com sacolas e panos. “Perguntaram se eu tinha filho, disse ter um de 11 anos, e eles disseram: ‘Ou você fala onde está o dinheiro, ou vamos partir para sua família”, afirmou.
Valdemar do Nascimento Alves, que também participou da audiência, confirmou todas as acusações feitas por Fabrício.
Polícia Civil se manifesta.
Em nota divulgada na terça-feira (5), a Polícia Civil de Mato Grosso confirmou que foi comunicada pelo Poder Judiciário sobre as denúncias e informou que a Corregedoria Geral irá instaurar um procedimento para apurar os fatos. A corporação ressaltou que todos os agentes são submetidos ao devido processo legal em casos de denúncia.
Investigação do assalto.
Os empresários estão entre os 14 suspeitos presos por envolvimento no assalto à agência do Sicredi. Inicialmente, a Polícia Civil tratava o crime como sendo no estilo “novo cangaço”, caracterizado por ataques com uso de reféns e armamento pesado. No entanto, segundo o delegado Gustavo Belão, da GCCO, a dinâmica do roubo não se enquadra tecnicamente nesse modelo.
A investigação aponta que o crime foi planejado com, ao menos, 20 dias de antecedência, com participação de diversos indivíduos em funções logísticas. Entre os envolvidos estariam um agiota e o recepcionista de um hotel que havia reservado um quarto para a quadrilha utilizar após a fuga.
Além disso, a polícia apura o envolvimento de policiais militares que teriam recebido propina para retardar a reação ao assalto em cerca de cinco minutos, permitindo a fuga dos criminosos. Um dos veículos utilizados na fuga foi incendiado, numa tentativa de despistar os investigadores.
A quantia levada pelos criminosos ainda não foi recuperada. As autoridades acreditam que o valor foi dividido e ocultado entre os integrantes do grupo. As buscas seguem para localizar o dinheiro e identificar outros possíveis cúmplices.
Megaoperação mobilizou mais de 100 policiais.
A resposta policial ao assalto mobilizou mais de 100 agentes de segurança pública. A força-tarefa contou com o apoio da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais (Core), equipes da Polícia Civil de Brasnorte e Tangará da Serra, do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), do Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer), da Força Tática e de outras unidades da Polícia Militar.
Apesar das denúncias de violência policial, a investigação do roubo continua em andamento, com foco na recuperação do dinheiro e responsabilização dos envolvidos.
Fonte: Por Jardes Johnson, g1 MT.